sábado, 25 de setembro de 2010

Obra em São Vicente acha ossadas indígenas de 400 anos

O prefeito Tércio Garcia observa os trabalhos arqueológicos no Boulevard Ana Pimentel. Foto: Márcio Pinheiro/ PMSV


A cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, continua revelando detalhes da história 478 anos após a sua fundação. Foram encontradas três ossadas humanas praticamente inteiras durante escavações para uma obra onde nasceu a primeira vila do Brasil. O mais surpreendente da descoberta é que embora os corpos estejam enterrados bem ao lado da Igreja Matriz - onde comumente eram enterrados os leigos cristãos -, provavelmente os corpos são de uma população pré-colonização, de índios tupis ou tupi-guaranis.

"Esses corpos são de 500 anos para trás. Mais recente não pode ser, pois há um tratamento diferencial no sepultamento de um cristão para um indígena", explicou o arqueólogo Manoel Mateus Gonzalez. "O corpo do cristão geralmente está estendido e, no caso do indígena, ele está na posição fetal." No entanto, só exames de DNA e carbono 14 vão determinar exatamente a etnia e a datação dos indivíduos. "Mas tem mais de 90% de chance de serem indígenas, pela curvatura dos pés."

A descoberta foi feita dois meses após o início da construção do Boulevard Ana Pimentel (mulher de Martim Afonso, fundador da cidade). Orçada em R$ 500 mil, a obra de drenagem e pavimentação de uma via ao lado da Matriz é monitorada desde o início pela equipe de Gonzalez. "Nessa escavação, para nossa surpresa, encontramos esses esqueletos inteiros e começamos a encontrar vestígios de sambaquis, que seriam sítios pré-históricos de 3 mil anos atrás, e também algumas cerâmicas tupis." Já foram retiradas mais de 1,5 mil peças do local.

AE - Agência Estado -25 de agosto de 2010



Achados arqueológicos remetem à fundação da Vila de São Vicente


Trata-se de ossadas humanas de três adultos, com partes inferiores das pernas e do pé, fragmentos de crânio e mandíbula, além de parte das costelas e peças de cerâmica.

Por conta da descoberta, as obras do Boulevard tiveram de ser paralisadas, de acordo com normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por se tratar de uma região de grande valor histórico e por ser próxima a um monumento tombado (Matriz). Foi feito o mapeamento do local onde se iniciaram as escavações. Toda essa ação é coordenada pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, responsável por outros achados importantes como fragmentos da primeira edificação erguida no Brasil e vários objetos que recontam fatos que aconteceram há 3.000 anos, na Casa Martim Afonso.

“O mais interessante é o fato dos ossos estarem sobrepostos e rodeados de cerâmica indígena. O que levanta teorias diferentes da origem dos achados, que podem pertencer a sepultamentos feitos pela Igreja Cristã ou de alguma aldeia indígena”, diz Gonzalez. Mas somente após uma pesquisa detalhada será definido que tipo de enterramento foi realizado no local.

O historiador e presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Cultural e Turístico de São Vicente (Condephasv), Marcos Braga, ressaltou a importância do feito e o interesse do poder público na preservação da história da Cidade. “A mudança na postura da Administração Municipal, que há três anos dá apoio a essas descobertas, é fundamental para revelar partes da história ainda não conhecidas”, afirmou.

O prefeito Tercio Garcia esteve no local para conferir as escavações e garantir a preservação desses achados. “O importante agora é alterar o cronograma das obras de forma a preservar o local das descobertas e os direitos dos comerciantes”.

Para o arquiteto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-SP), Victor Hugo Mori, essa descoberta é mais um indicio da importância de São Vicente no contexto da história de desenvolvimento do Brasil. “Toda a história está no subsolo, portanto só a arqueologia pode fazer aflorar esse passado e ampliar os relatos já existentes”.

www.saovicente.sp.gov.br

terça-feira, 21 de setembro de 2010































segunda-feira, 13 de setembro de 2010