domingo, 22 de agosto de 2010

Os mais poderosos do Mundo

Americano lista seis mil pessoas capazes de mudar o mundo mais pelas conexões sociais do que pelo dinheiro.

jornal O Estado de São Paulo

Nada de regras, nem processo formal. Quando a crise imobiliária americana atingiu seu ápice e o risco de recessão nos Estados Unidos tornou-se iminente, Timothy Geythner, o dirigente do Federal Reserve ( Fed, banco central americano) de Nova York, foi impelido a agir.

Consciente de que nem o Fed nem qualquer instituição tem poder nos dias de hoje para estancar crises semelhantes, ele sacou o telefone e disparou ligações. Em pouco tempo reuniu uma dezena de líderes das empresas mais importantes do mercado. “ Digam-nos o que fazer e trabalharemos juntos para que nada os impeça”, disse. “ Se vocês agirem, todos se moverão com vocês”.

A história sobre a atuação de Geithner nos bastidores da crise americana revela mais do que a colaboração entre instituições públicas e privadas em assuntos de relevância mundial. Geithner e os poderosos a quem ele telefonou formam um grupo seleto de pessoas detentoras de muito poder, capazes de mudar o rumo dos acontecimentos.

Trata-se de uma nova elite, a superclasse. Um grupo composto por empresários, políticos, artistas,religiosos, filantropos – indivíduos que valem mais pelas suas conexões sociais e poder de influência do que pelas fortunas ou nacionalidades.

Sozinho, cada um desses membros dessa classe é capaz de transformar a vida de milhões de pessoas em todo o planeta. Para isso eles abusam de seus relacionamentos com os outros “super”, interação que lhes garante ainda mais poder.

Bill Gates,co- fundador da Microsoft e um dos maiores filantropos da atualidade, é um “super”. Paulo Coelho, o segundo escritor que mais vendeu livros na história, também. Juntam-se a eles Bono, vocalista da banda U2, o papa Bento XVI e os criadores do Google, Sergei Brim e Larry Page. Na lista dessa elite (formada por cerca de 6.000 mil pessoas ou uma em cada milhão de habitantes) constam inclusive nomes controversos como o traficante de armas russas Viktor Bout e o terrorista Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda.

A “era do poder herdado acabou”, diz ao Estado o americano David Rothkopf, autor do livro Superclass: The Global Power Elite ande World They are Making ( A Superclasse: uma nova elite global e o mundo que eles estão fazendo). “Quem tem poder hoje é quem tem influência”, explica. “O presidente Lula é um exemplo. Tornou-se uma figura mais relevante dentro dessa elite graças ao sucesso do etanol.”

Rothkopf, funcionário do alto escalão da Casa Branca no governo Bill Clinton, foi o primeiro a cunhar o termo superclasse. Mas a noção de que uma elite atípica – oriunda da globalização, do afrouxamento das fronteiras e dos avanços tecnológicos – começou a se formar nas últimas décadas é anterior a ele. Um dos primeiros a observar a formação desse novo grupo foi o Chefão do Citibank Walter Wrinston, falecido em 2005,. Um ano antes do lançamento da World Wide Web, m 1991, ele já previa que os beneficiados no novo século seriam os que aderissem á economia da informação. O cidadão global que pertence á essa superclasse foi descrito também elo cientista político Sumuel Hungtinton como o “Homem Davos”, o líder internacional da nossa era, para quem as fronteiras são desprezíveis.

As elites existem desde que o mundo é mundo e sempre estiveram ligadas à aristocracia, à riqueza e ao poderio militar de um país. Até a década de 50, os membros de uma elite eram descritos como pessoas capazes de transpor os meio comuns, em posição de tomar decisões, no topo das maiores hierarquias e organizações. “A superclasse tem um pouco de todos esses elementos, mas vai além. É mais permeável e mais global do que qualquer outra elite da história”, afirma o autor. Segundo ele,antes havia conexões entre as elites de várias partes do mundo, mas eram relações restritas a alianças entre governos e chefes de Estado.

Os anos pós-guerra e a Guerra Fria mantiveram as nações como grandes centros do poder. “Com a globalização, a noção dos países como centros de governança começou a ruir”, diz Rothkopf. A transformação das empresas em potências transnacionais alimentou a superclasse. Em 1960, uma companhia internacional média tinha 100 subsidiárias. Hoje tem 10.000. Em 1950, a defesa americana tinha um orçamento maior do que a receita de todas as grandes companhias do país. Hoje, apesar de o orçamento do Exército ser grande, a receita de duas dessas empresas supera o montante em 50%.

O dinheiro é, sim, parte importante da equação que define quem está dentro ou fora da superclasse. Cerca de 10% das 6.000 pessoas da superclasse detêm 85% de toda a riqueza do planeta. O magnata mexicano Carlos Slin, da Telmex, é um deles. Ele é conhecido por promover eventos grandiosos em Davos, ao custo de dezenas de milhões de dólares, onde reúne empresários e líderes latino-americanos. Cuida de toda a programação, escolhe as palestras, define os jogos de tênis e golfe e até quem vai jogar com quem. “Nessas ocasiões ele encontra as pessoas certas, que podem influenciar os seus negócios no mundo todo”, diz Rothkopf. “Ele é um exemplo de como essa elite age: o mais importante é se relacionar bem”.


A nova elite mundial: poder das conexões