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Segundo a polícia, evento de funk servia para aliciar garotos para o tráfico e meninas para a prostituição
Camilla Haddad
Camilla Haddad
A Polícia de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, invadiu às 8 horas de ontem um baile funk que servia para matar aulas, dar drogas a crianças e aliciá-las para a prostituição e o tráfico. No local, havia 75 adolescentes, com idades entre 12 e 16 anos. Duas pessoas foram presas e vão responder por corrupção de menores e tráfico de entorpecentes. Conselheiros tutelares tiveram de comparecer à seccional para amparar os alunos, que só foram liberados após a chegada dos pais. Alguns chegaram até a imaginar que se tratava de um trote por telefone quando foram convocados.
Os convites para o baile funk Mata Aula de todas as sextas-feiras ocorriam na entrada e na saída das aulas de quatro colégios públicos do bairro de Morro São Pedro. O caso passou a ser investigado há dois meses, depois que os diretores dos colégios denunciaram faltas de alunos e queda na produção de classe. Para preservar as crianças, os nomes das unidades de ensino não foram divulgadas.
Quando houve a ação policial, os convidados do evento dançavam e tomavam rodadas de cerveja e copos de uísque e pinga. No local, foi preso o casal de comerciantes José de Oliveira Santos, de 48 anos, e Mariana Perez, de 21 anos. Eles cuidavam das bebidas e se apresentavam como os organizadores do baile. Em depoimento, negaram que estivessem desviando as crianças da escola. Santos disse que as adorava e estava apenas tentando "distraí-las". Mariana apresentou a mesma versão.
O seccional da cidade, delegado Mitiaki Yamamoto, explicou que os presos contavam com "agentes aliciadores" nas portas das escolas. "Também investigamos alunos que são aliciadores." Yamamoto contou que na festa também se apreendeu maconha e cocaína. Os entorpecentes, segundo ele, seriam utilizados para viciar as crianças e adolescentes e eram vendidos a preços bem acessíveis. "Posteriormente, aliciavam as meninas para prostituição e os meninos, para o tráfico."
O baile funk começou às 7 horas de ontem e era realizado em um galpão alugado para festas na Rua Dom Pedro de Alcântara. "Conseguimos informações e demos o flagrante", ressaltou Yamamoto.
FREQUENTADORES
De acordo com as pessoas presentes na festa, as meninas eram VIPs e por isso não pagavam ingresso. Os meninos tinham de desembolsar uma taxa simbólica de R$ 2 para ficar na festa até por volta do meio-dia. Os copos de pinga, segundo os adolescentes, eram vendidos a R$ 1,50. Cerveja não custava mais que R$ 2 em copos grandes. O uísque tinha valor mais alto e constava em um panfleto - uma espécie de cardápio do evento.
A adolescente A. de 13 anos, que cursa a 5ª série do ensino fundamental, ficou assustada com a chegada de várias viaturas da Polícia Civil de São Bernardo. Segundo ela, era sua primeira vez no baile. "Quem me chamou para ir foi um colega. Ele tem 15 anos e é aluno da minha escola." Assustada a menina disse que não tinha a intenção de faltar várias vezes na escola. "Quis apenas conhecer, várias pessoas estão indo, mas eu não bebo e não me drogo."
A menina conta que não é obrigada a usar uniforme todos os dias e por isso estava no baile usando calça jeans e moletom. Outra estudante, de 15 anos, negou que o local fosse um baile funk. "A polícia está exagerando. Estávamos apenas conversando."
Procurada, a Secretaria de Estado da Educação disse que desconhecia os eventos que ocorriam fora das escolas e informou que está à disposição da polícia para ajudar na investigação do caso, assim como a Secretaria de Educação de São Bernardo.
Jornal da Tarde e Estadão - 24/10/2009